sexta-feira, outubro 20, 2006

Boys dont cry


De tanto querer, num dia indeciso, insuflou os pensamentos, esvaziou os bolsos, e lá conseguiu voar.
Alegre, saltitou de nuvem em nuvem, rebentou bolas de sabão com a ponta dos dedos, brincou com a luz do sol e, à noite, envergonhado, chegou a beijar uma estrela. Namoro interrompido por uma Aurora apressada e ciumenta.
Cansado, aconchegou-se na nuvem mais doce e dormitou. Deu-lhe a forma que quis e fez dela a sua casa.
Não fossem as zangas do sol, motivadas pela sombra das nuvens à sua dança…
Os dias nublados, que o deixavam de pés molhados e com frio…
E o brilho das estrelas, que com o passar do tempo, se tornou, aos seus olhos, oco e fugaz…
… podia ter sido feliz.
Chegou a procurar conforto nas recordações que já não guardava nos bolsos, sentiu saudades do que não conseguiu esquecer e quando olhou para baixo, quase chorou, quando sentiu a sua vontade de voltar esmagada pelo medo de cair.

Menino, espera pelo Sr. Arco-íris e faz dele o teu escorregaPode ser que no final da viagem ainda encontres um tesouro!

quarta-feira, outubro 18, 2006

Viagem


Lembro-me de acordar de madrugada, envolvida no frenezim dos últimos preparativos e esconder-me no banco de trás do carro com a minha almofada.
Já naquele tempo sabia que a adrenalina e a expectativa inicial, de uma longa viagem, facilmente se podem transformar em cansaço e angústia. Comigo resultava olhar pela janela e imaginar que era a paisagem que viajava em mim… ainda hoje o faço!
Numa dessas viagens intermináveis contei todos os traços da estrada que consegui, até ao que julgava ser o fim dos números. Se na altura julgava que existiam mais traços do que números, agora sei que posso contar sem parar, e nunca chegar a lado nenhum.
Sim, podemos viajar sem sair do mesmo sítio. Basta fechar os olhos e saber sonhar!

Ainda falta muito?

quarta-feira, outubro 04, 2006

O Amor


Inevitavelmente, voltamos sempre ao mesmo: o amor!...
Tudo já foi dito e redito, tudo teve o seu direito e o seu avesso, no entanto, quando o dizemos de dentro, é como se tudo num breve instante se esbatesse e reencontrássemos a voz primordial. É assim com a pessoa amada, é assim com todas as canções de amor.
Claro que gostamos de finais felizes, claro que fazemos sentir a nossa falta, claro que nos irritamos, claro que projectamos na voz da pessoa amada os nossos mais secretos desejos…
Claro que nos desiludimos para voltarmos ao mesmo: o amor!
Atravessamos um deserto cego e frio e só depois nos damos conta; deixamos livros marcados para que o outro dê conta de nós; rasgamos a pele e a roupa para que, num desespero de carência, se ofereça o essencial… e, no entanto, só perante o amor avaliamos a nossa total fragilidade. É o suspenso momento de todas as indefinições, de todos os medos, de todas as dúvidas… Mas, simultaneamente, o grande delta de toda a razão de ser, a grande casa inacabada.

João Monge in CD O Assobio da Cobra

Revi-me nestas palavras, resolvi partilhar...