sexta-feira, janeiro 05, 2007

Elevador

À medida que subia, o som do piano ia ficando mais distante, engolido por aquele barulho agudo que serve de compasso à passagem dos andares.
Colo-me ao vidro, deixando-o embaciado, espreito, procuro, espero. Não, já não está lá ninguém.
Aposto que se fechar os olhos, ainda consigo ouvir a música… mas, entretanto, deslumbro-me com a paisagem e mantenho-os bem abertos.
Perco a noção do tempo, sinto-me um concentrado de mim mesma, nesta cápsula envidraçada.
As ambiguidades, contradições, o direito e o avesso, o ficar e o partir, o dormir e o correr, o amar e o odiar, o dar e o receber.
Anestesiada, vejo a porta abrir à minha frente. Cheguei.
Antes da porta fechar, fiz um desenho no meu embaciado, talvez alguém o (me) consiga descobrir.

Saí.