sexta-feira, julho 28, 2006

Festa


Preparei aquela noite até ao mais ínfimo pormenor.
Os convites, a decoração, a iluminação, o som, a comida, o meu look… Todos os detalhes mereceram a minha dedicação nos últimos 8 meses.
Queria que tudo fosse perfeito…
A Lua, compreensiva, cheia de força, acompanhou as tochas num extraordinário festival de cores.
Os convidados de honra, eles de smoking, elas cobertas de lantejoulas, reluziam no jardim, cada um com o seu copo de cocktail na mão. Todos sorriam, apesar de nem todos estarem felizes…
No bar, raparigas lindas de pernas altas, serviam doses avantajadas de whisky. Elixir dourado desibinidor para os mais tímidos...
Os empregados presenteavam os convidados com as suas bandejas de canapés, fazendo lembrar um batalhão de formigas em acção.
A orquestra, que tocava na perfeição as pautas ensaiadas, era guiada por um esguio e vaidoso maestro de madeixas desgrenhadas.
E eu lá andava, esvoaçante no meu vestido decotado, orgulhosa do meu feito, a distribuir sorrisos e a receber beijos congratulantes. Com o coração cheio de amor e adrenalina, que bom!
Depois do majestoso fogo de artifício iríamos abrir o baile com uma valsa.
(O que nos rimos a tentar aprendê-la, até encontrarmos a nossa sintonia.
Os pés magoados, as costas doridas e o cansaço da melodia repetida vezes sem conta, não nos fizeram desistir. Lutámos, e encontrámos o encaixe perfeito. Eu e tu, numa valsa, quem diria!!!!)

O meu olhar, num relance, procurou-te por toda a festa. Não te vi.
Reconhecer-te-ia só pelo vulto, pelo cheiro. Não estavas lá.
Desmoronou-se a minha alma, e ficou presa aos meus pés.
Paralisada, não consegui fugir. Bombardeada por expressões intrigadas e reprovadoras, adoptei este velho vício de cantarolar para mim:

It's my party and I'll cry if I want to
Cry if I want to, cry if I want to
You would cry too if it happened to you