O mundo a meus ombros
Às vezes o mundo anda aos nossos ombros, como uma criança. Pesa-nos sobre os ombros e agarra-se à nossa cabeça. Às vezes, até nos puxa os cabelos. Magoa-nos. Tapa-nos os olhos, faz-nos tropeçar e perder o norte.
Sentimos o seu peso, mas não o podemos deixar cair. Não vá o mundo partir-se, irremediavelmente, em mil pedacinhos.
Pacientemente, vamos levando o mundo connosco, como que numa deambulação com vista panorâmica sobre nós próprios…
Neste passeio vamos encontrando outras pessoas, umas com os seus mundos às costas (a procurarem a posição ideal para o transporte) e outras a passearem pelos seus mundos, felizes porque encontram na redoma que construíram, tudo o que precisam. Pessoas com sorte (ou sabedoria)!
Com jeito, de tempos a tempos, aliviamos o esforço, quando o mundo, distraído, adormece sobre nós. Em silêncio, colocamo-lo ao nosso lado, bem pertinho, para não lhe faltarmos quando ele, inevitavelmente, acordar. Pausas preciosas, que aproveitamos para encher os pulmões de ar.
Podemos andar assim com o mundo, durante muito tempo, o suficiente para nos esquecermos de como era viver sem ele...
Mas, quando menos esperamos, o mundo transforma-se num simples balão de hélio (com formas e cores variadas) e parte de nós. Vai subindo até o perdermos de vista, para nunca mais voltar.
Depois do alívio inicial (que dura o que tiver que durar), sentimos vazio e saudade, e não descansamos enquanto não encontramos outro mundo para carregar…
O meu é um mundo gordo, pesado... mas já o tenho há tanto tempo...
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