segunda-feira, julho 17, 2006

Frio na Alma


Hoje tivemos que acordar cedo, que pena. O nosso sono era tão bom, quente e doce.
Lá fora estava frio, nem sabíamos o que íamos encontrar porque o embaciado da janela não deixava.
Com o teu sorriso meigo – hoje nervoso – preparaste tudo o que precisávamos. Conheces-me tão bem. Fizeste-me assim.
De pés enregelados, encolhidos, curvados sobre nós, pesados, saímos de casa.
Protegeste-me com o teu braço, agarrei-me à tua cintura, como se com estes gestos tivéssemos decidido – ‘Não vamos ter medo’.
Quando pelo caminho, sussurrava – ‘Gosto muito de ti’, as palavras pareciam bolas de fumo que se desfaziam antes de chegar até ti.
Chegámos ainda o dia estava indeciso.
Os nossos corpos, na praia, olhavam o infinito, sabíamos como ia ser. Tu primeiro, eu depois. Como tínhamos decidido e combinado, vezes sem conta.
Nasceu o sol, com ele um pouco de calor.
Preso na minha garganta um ‘Não vás’, que não podia ser dito, porque escondia um ‘Preciso de ti’.
Já estava inundada de tristeza, de joelhos trémulos, vazia de alma, quando sorriste e disseste – ‘Eu sei’.
Encheste o peito de ar, tiraste as mãos dos bolsos e com um olhar determinado afirmaste – ‘Conheço outro caminho’.
Esse era para o lado oposto, nunca tínhamos falado sobre ele e não sabemos para onde vai…

E eu, tenho tanto frio, posso ir para casa?