Ressaca

Abri os olhos com a primeira luz da manhã.
Vi-te, desfocado, no meu lado esquerdo. Sorri. Que pena ainda estares a dormir.
Sem aquele abraço, fui chamando a minha cabeça, perdida na noite anterior, ao meu corpo. Com ela vieram as recordações da noite, do dia antes da noite, da noite antes do dia antes da noite…da vida.
Ainda procurei as memórias que me faziam ter medo do futuro, mas não as encontrei. Levou-as o vinho tinto ou roubaste-mas quando me beijaste o pescoço?
Pus-me de pé num chão que deixou de existir e consegui andar. Feliz, pela descoberta, desci as escadas a correr e comecei a cantarolar.
Ao espelho, o meu eu matinal, de olheiras e despenteado, pareceu-me mais bonito do que nunca. Roupa alegre, chinelo no pé, cabelo solto.
Deixei um papelinho ao lado do teu sono, A minha felicidade nasce com a tua, e saí porta fora, com uma vontade incrível de agarrar o mundo, apesar da dor de cabeça e do nó no estômago.

O pior já passou e o melhor está ainda para vir…